terça-feira, 29 de agosto de 2017

DESARMAR-SE PARA AMAR

Arte: Eduardo Nasi

Amar com pressa, como um motoboy diante da sinaleira.

Amar com simplicidade, festejando um copo d’água.

Amar com pureza, como se fosse o primeiro do dia do relacionamento, nunca o último.

Amar com lealdade, contando até o que não precisa.

Amar com vontade, não abandonando o poder da pele com beijos e carícias.

Amar rindo, porque o sorriso favorece a confiança.

Amar com nostalgia, conversando com os botões e viajando pela história das roupas nos armários.

Amar planetariamente, com a cabeça deitada no colo, formando figuras com as nuvens e ligando as estrelas aos seus nomes.

Amar com ternura, dar férias para as escovas e pente e alinhar os cabelos do outro com os dedos.

Amar com saudade, fracassando nas despedidas.

Amar distraindo a dor com as lembranças.

Amar com paciência para ouvir a crítica e a reclamação, pois respeitar é o mesmo que rezar.

Amar cuidando de uma dúvida de cada vez.

Amar não estragando a surpresa. Quando a pessoa se aproxima secretamente por detrás e fecha os seus olhos com as mãos perguntando quem é, diga sempre que não sabe.

Amar com firmeza, nunca permitindo que o diagnóstico seja maior do que a fé.

Amar arrumando a casa como quem escreve uma longa carta para quem está próximo.

Amar como uma criança que dá a mão quando tem medo da beleza.

Amar com esperança de passar uma história de amor aos filhos.

Amar com livros pela metade, na solidariedade da cama, apagando o abajur quando a companhia não resiste ao sono.

Amar com rigor, juntando o tempo que se viram com o tempo de namoro com o tempo de casado, não restando nenhum dia de fora do aniversário.

Amar jamais esquecendo de como se conheceram, e de como se desconheceram para amar ainda mais.

Publicado em Vida Breve em 05/04/17

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