Arte: Eduardo Nasi
Amar com pressa, como um motoboy diante da sinaleira.
Amar com simplicidade, festejando um copo d’água.
Amar com pureza, como se fosse o primeiro do dia do relacionamento, nunca o último.
Amar com lealdade, contando até o que não precisa.
Amar com vontade, não abandonando o poder da pele com beijos e carícias.
Amar rindo, porque o sorriso favorece a confiança.
Amar com nostalgia, conversando com os botões e viajando pela história das roupas nos armários.
Amar planetariamente, com a cabeça deitada no colo, formando figuras com as nuvens e ligando as estrelas aos seus nomes.
Amar com ternura, dar férias para as escovas e pente e alinhar os cabelos do outro com os dedos.
Amar com saudade, fracassando nas despedidas.
Amar distraindo a dor com as lembranças.
Amar com paciência para ouvir a crítica e a reclamação, pois respeitar é o mesmo que rezar.
Amar cuidando de uma dúvida de cada vez.
Amar não estragando a surpresa. Quando a pessoa se aproxima secretamente por detrás e fecha os seus olhos com as mãos perguntando quem é, diga sempre que não sabe.
Amar com firmeza, nunca permitindo que o diagnóstico seja maior do que a fé.
Amar arrumando a casa como quem escreve uma longa carta para quem está próximo.
Amar como uma criança que dá a mão quando tem medo da beleza.
Amar com esperança de passar uma história de amor aos filhos.
Amar com livros pela metade, na solidariedade da cama, apagando o abajur quando a companhia não resiste ao sono.
Amar com rigor, juntando o tempo que se viram com o tempo de namoro com o tempo de casado, não restando nenhum dia de fora do aniversário.
Amar jamais esquecendo de como se conheceram, e de como se desconheceram para amar ainda mais.
Publicado em Vida Breve em 05/04/17
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