Arte: Eduardo Nasi
Separação não acontece de repente, não é súbita, não é virar as costas, não se reduz ao ato de ir embora.
A ruptura é longa. Toda separação é uma construção a dois, assim como foi o casamento. Terá que escolher quem você será para o ex ou a ex: um amigo ou um estranho? Um confidente ou um estúpido?
Porque o término da relação nunca é o término do amor. A emoção não desaparece de repente, a esmo, apenas deixamos o turbilhão morrer de fome e sede num quartinho fechado. Disfarçamos a sua existência com a roupa precária de outros sentimentos (raiva, indiferença, esperança, vingança). Demora para vir a nudez das palavras de novo.
Terá que experimentar os dois largos passos para o precipício.
Aquele que se separa somente vai se separar quando tomar um porre. Pode ser de caipirinha, de vinho, de uísque, de cerveja. É um porre sozinho ouvindo música alto em seu QG de tristeza. O risco de ligar para a ex ou o ex é imenso. Escreverá como um mendigo abandonado e culpará a bebida na manhã seguinte.
Aquele que se separa somente vai se separar na hora que constatar que a outra pessoa continua vivendo, é muito melhor do que em sua presença. Daí virá a inveja misturada ao rancor e, certo ou errado, com motivo ou sem motivo, vai procurar a ex ou o ex de madrugada para reaver o território. Nem é porque ama, mas por absoluta possessividade, para não perder a influência e estragar a alegria da solteirice do próximo. Armará uma transa louca ou uma discussão infinita, ambas com o mesmo trabalho incomensurável. O sacramento final será o telefonema ao melhor amigo ou amiga, apenas resumindo o acontecimento: “fiz merda”.
Não haverá reconciliação, apenas voltará ao início da expiação. Conseguiu recomeçar do zero a proeza do sofrimento.
Amor banido é amor bandido, entremeado de regressões.
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