Arte: Eduardo Nasi
Há amores que são zumbis. Você precisa matar a sua vida para casar. Você precisa assassinar a sua personalidade para acompanhar. Você precisa não existir do jeito ensolarado e natural de antes.
Os tipos estão disfarçados de passionais: entregam-se rapidamente para criar laços imediatos e não oferecer tempo para descobrir as suas mentiras.
Não existe democracia e respeito às diferenças ao lado deles. Aceitam a convivência desde que seja de igual para igual, sinistramente. Você não pode ter sucesso que lhe chamam para as dúvidas. Não pode ter amizades felizes que realizam intrigas. Não pode se enxergar leve e disposto que receberá críticas e difamações. Não pode ter filhos que criam disputas. Não pode ter desejos pessoais que confundem a sua independência com egoísmo.
Elas não sobem para a luz, e puxam todo mundo para o escuro. Sugam a energia com variações de humor e acessos de raiva.
São as melhores companhias no apocalipse, quando se igualam com uma realidade desfavorável, e as piores conselheiras na alegria.
A única saída para ser feliz é se acostumar com a tristeza. Você troca a sua constância sensível e apaixonante pela imortalidade da angústia, o que, convenhamos, não é um bom negócio.
Você jamais saciará a vontade desse estranho par. Pois ele se alimenta de sua destruição. Não há como manter um romance sadio, o ódio é um preliminar e transarão apenas depois de quase se matarem.
Sempre vai correr o risco de parar na delegacia ou ser notificado pelo condomínio. Perderá a credibilidade e o respeito dos amigos. As olheiras serão o menor dos males.
Não há como permanecer com os zumbis – estes inimigos amantes -, só sendo zumbi junto.
Publicado em Vida Breve em 22/01/17
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