Nunca discuto com Beatriz. Nunca brigo com Beatriz. Quando um não concorda com algo, deixamos para ver quem tem razão no dia seguinte. Damos 24h para cada um pensar, escolher as melhores palavras e provar ou desistir de seu argumento. Às vezes nem conversa tem, só o pedido de desculpa de uma das partes. O perdão vem com aquele beijo que desfaz a birra por completo. Não sei se é perdão, talvez seja saudade. A saudade é o voto de desempate entre duas pessoas.
O romance deve ser civilizado. Até porque ela tem todo o direito de pensar e sentir diferente. A falta de consenso não pode destruir o nosso amor.
Em alguns momentos, eu vejo que ela faz o que quero mesmo sem vontade. Ela também sabe que eu faço o que ela quer mesmo sem convicção, e a felicidade dissolve o egoísmo. Não nos prendemos em cobranças. Somos inteiros ainda com desejos parciais. Não há caderninho de fiado para apontar quem realizou mais ou menos. O que ela me oferece já é muito para mim e somente tenho a agradecer.
A química é consequência direta de nosso começo. Antes de ficar, deflagramos uma guerra de mensagens. Não nos entendíamos, possuídos em impor as nossas vontades. Dizíamos o que queríamos da vida, não escondemos os nossos planos, apresentamos nossos defeitos e piores manias. Oferecemos motivos suficientes para o outro desistir enquanto havia tempo. Ela me chamava de insuportável, eu a achava esnobe.
Mas não é que derrubamos os medos com tamanha sinceridade? Chegou um momento em que ríamos das brigas, e nem mais nos defendíamos, ofendidos, dos ataques.
E o riso dela é tão bonito que perco o fio dos pensamentos mesmo, só para rir junto e voar perto de sua boca.
Tudo o que era para ser resolvido aconteceu antes da relação, não durante a relação. Sem enfrentamentos no início, o risco é se casar com um estranho e somente descobrir a verdade desagradável no meio da convivência.
Não querer se incomodar durante a paixão é comprometer a lealdade tempo depois.
Por isso, o mar é uma ilustração de nossos afetos. As ondas são violentas no raso de propósito, para nos preparar ao mergulho. Vencendo a rebentação, as águas se tornam calmas e plenas.
Amar foi uma decisão madura, minha e de Beatriz, após longo namoro de ideias e sonhos.
Crônica publicada em 29/6/2018
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