quinta-feira, 21 de março de 2019

GERINGONÇA PREGUIÇOSA

A máquina de lavar pratos é inútil. Uma invenção bem intencionada, mas inútil.

Você precisa desengordurar primeiro os pratos com o papel, para colocar na esteira. Com a canseira que leva para ajeitar a louça no interior do aparelho já daria tempo para limpar tudo.

A máquina de lavar pratos é uma geringonça preguiçosa. Vem cheia de restrições. É alérgica a frutos do mar e intolerante à lactose e a glúten. Ou seja, não aceita quase nada.

Ela jura que é Napoleão no manicômio da cozinha, sofre da mania de grandeza da máquina de lavar roupa. Ao ser comprada já avisa:

- Eu vou para a sua casa. Só que não lavo panelas e frigideiras.

O que adianta, então? Não cuida justamente do pior, da maior herança do sebo. No lugar dela, terá que estragar as unhas esfregando o contorno das formas.

Ler o manual de instruções é ler o que não pode fazer, nunca o que pode fazer.

Na verdade, ela não trabalha para você, você trabalha para ela. É a sua doméstica, o seu auxiliar de luxo.

A máquina de lavar não resolve o fundo arenoso das mamadeiras, as bordas vincadas das vasilhas empestadas, não ajuda com o pesado da vida doméstica. É simplesmente uma prateleira com espuma.

Vejo que também é machista. Não limpa copos e cálices sujos de batom. Tem dificuldades de relacionamento com o público feminino. Assim também constrange solteiros e incrimina infiéis, cria casos e encrencas amorosas preservando as manchas.

Talvez ela apenas sirva para dissuadir as visitas de colaborar com a louça no fim do almoço ou do jantar. Convenhamos, é uma desculpa muito cara.

Publicado em Donna ZH em 06/5/2018

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