segunda-feira, 25 de março de 2019

PEQUENOS BRAVOS

Enquanto se desenrolam as semifinais da Copa, o mundo testemunhou uma paralela Copa, a da sobrevivência, com a resistência de doze crianças de 11 a 16 anos e de um professor, isolados na caverna Tham Luang, no norte da Tailândia, desde o dia 23, a 4 km de distância da entrada.

O time de futebol de meninos, conhecido como Javalis Selvagens, foi resgatado nesta terça-feira (10), o terceiro dia da arriscada operação. Cada menino recebeu a condução de dois mergulhadores e usou máscara facial de oxigênio por frestas e subterrâneos de difícil acesso. Uma corda guia foi posta pela rota para garantir o retorno.

Eles ficaram isolados e sem comida por nove dias, devido às chuvas. Foram localizados no dia 2 de julho, debilitados e desnutridos, e criou-se uma manobra perigosa de aproximação pelas autoridades, inclusive com a morte heroica do voluntário tailandês Saman Kunan, militar do grupo de elite da marinha e atleta de alto rendimento.

Milagre não é fazer o paralítico andar, o cego enxergar, o surdo ouvir, é realizar o possível, até a exaustão do possível, é devolver o homem ao homem. Acreditar mesmo quando as evidências provam o contrário.

O impossível dividido é sempre possível. A força-tarefa envolvendo especialistas de vários países demonstrou que a alma pode passar por qualquer lugar. Não há nada que a impeça de atingir os seus objetivos.

Aquelas crianças, ilhadas pela chuva, sem comunicação por semanas, sem comida, mantiveram-se convictas da salvação pelo poder das palavras. No escuro, as palavras são luz. Na fome, as palavras são alimento. Pelas palavras, espiavam para fora da montanha. Pelas palavras, reconheciam a saída. Enquanto conversavam, estavam vivas. Enquanto conversavam, era um time de futebol se ajudando em campo. Enquanto conversavam, não definhavam, ocupavam as horas, moravam no tempo de suas esperanças.

E o mais tocante é que as crianças foram salvas de quatro em quatro, e todas faziam questão que o seu amigo fosse o primeiro a subir à superfície, interessadas em proteger o outro para depois pensar em sua vida.

Tão crianças, tão generosas, tão unidas. Nenhum adulto seria capaz, como elas, de vencer o egoísmo na mais completa carência. A infância é o nossa maior aula de fé.

A humanidade encontra-se de novo fora da caverna.

Crônica publicada em 10/7/2018

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