Quando alguém pede desculpa, você deve aceitar ou não. Simples assim. Mais nada. Sim ou não são as únicas opções.
Pedido de desculpa não é prova dissertativa, mas de múltipla escolha.
Só que ninguém aguenta apenas acatar a confissão e acaba humilhando e constrangendo quem tenta reparar a sua falha. Logo vem as perguntas: Por que fez isso? Coloque-se no meu lugar, por que mentiu? Você não confia em mim?
E um etc interminável que transforma o arrependimento em discussão de relacionamento e disputa de vaidades.
Você ainda quer testar a sinceridade e passa a interrogar aquele que se encontra fragilizado e vulnerável em uma posição de humildade.
Não percebe o quanto é difícil vencer o orgulho, e não ajuda no processo de conscientização com a objetividade.
Pensa unicamente em quanto está magoado e se vinga rebaixando o seu par, para que ele se sinta a pior criatura do universo.
A absolvição é dada sempre sob tortura, ironicamente com a demonstração de que a atitude é imperdoável.
Devido à nossa péssima receptividade, o pedido de desculpa é pouco praticado.
Ninguém aceita a solicitação na hora. Com a brecha aberta em sua companhia, aproveita-se para atacar. Ao descobrir que tem razão, abusa da autoridade a ponto de se transformar num tirano.
A retratação, mesmo quando realizada rapidamente, não elimina a sua brabeza e o seu mal-estar. Não desaparece com a sua vontade de brigar. E você recebe a desculpa e acaba dando sermão mesmo quando o outro já admitiu o erro. Não tem sentido continuar com a conversa, mas não admite seguir adiante sem estabelecer uma pena.
O que atrapalha o perdão é que queremos infringir um castigo naquele que cometeu um engano, partimos do princípio de que ele deve pagar pelos seus erros, para que não ocorra uma reincidência.
No amor, é necessário escolher entre a compaixão e a justiça, entre a empatia e o papel de inquisidor. Os dois não têm como coexistirem.
Quem desculpa muda de assunto. Não fica batendo na mesma tecla até quebrar a linguagem.
Publicado em O Globo em 04/7/2018
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