segunda-feira, 25 de março de 2019

O FRANGO

Não poderia ter frango em Copa. Deveria ser proibido pelo regulamento. Frango é várzea, Liga Amadora, pelada, campo de terra batida com calombo e morrinho artilheiro.

O que aconteceu com o bom goleiro uruguaio, que determinou a desclassificação da Celeste para a França, foi de uma melancolia romântica, digna da pena de Victor Hugo (e seu fatídico prazer de estar triste).

O chute de Griezmann, de fora da área, no meio do gol, era um suspiro. Uma tentativa fracassada. Um tiro morno e bisonho. Fato insignificante para a emissora trocar de câmera e ir para o lance seguinte.

Tudo bem que Muslera espalmasse, jogasse vôlei, deixasse rebote. Mas a bola se transformou num pião em suas luvas, num redemoinho e seguiu, devagar, para as redes. Até a bola ficou constrangida na hora de entrar.

O arqueiro entrou em parafuso entre rebater e segurar, o braço direito não concordou com o esquerdo e houve um malabarismo atrapalhado de semáforo.

Antoine Griezmann deu exemplo. Não comemorou o gol, seu olhar só pedia desculpa. Baixou a cabeça e seguiu em frente, apesar do estardalhaço de seus compatriotas, como se nada não tivesse acontecido. Quis abafar o escândalo.

Frango merecia ser anulado. É tão vergonhoso para todos os jogadores que desqualifica a vitória.

Crônica publicada em 06/7/2018

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