segunda-feira, 25 de março de 2019

NAMORO NÃO É BRINCADEIRA

Leitora diz que vem passando por uma situação complicada com quem ama. Lista tudo o que julga de entrave: as discussões, o medo de se entregar, a família difícil. E não cita um único detalhe: ele tem namorada. Como se fosse uma irrelevância, um detalhe insignificante, um cravo na pele, que basta espremer com as unhas para tirar.

Omite o essencial, mas de propósito: “ele merece ser meu, eu mereço ser dele”. A namorada não existe, é apenas uma simples barreira removível.

O que me faz entender o pouco caso que se tem com o namoro, que é tratado como uma situação provisória, na qual se pode sair a qualquer instante, sem trauma e vínculo.

Namoro não teria o status de casamento. Assim poderia ser rompido com desinteresse.

De acordo com a teoria da leitora, qualquer namorado ou namorada estaria ainda disponível para cantadas e flertes, para assédios e conquistas. Flutuaria pelo mundo virtual livre de contrato.

Quantos acreditam, como ela, nessa distorção e não respeitam os beijos e as mãos dadas de pares românticos e avançam o sinal? Aproximam-se com segunda intenções, aproveitando as brechas das crises e das brigas, mostrando-se compreensivos e carinhosos. Exploram a fragilidade da confissão para se dar bem, vender as suas virtudes e se posicionar como uma opção confiável.

Quem já não viu um colega de trabalho escolher de alvo alguém namorando e investir no papel de confidente para questionar a relação, a ausência de felicidade, confundir a cabeça inocente da pessoa, argumentando que merecia mais e não deveria se contentar com migalhas?

O que há de urubus e abutres rondando o céu com as asas falsas de cupidos. São interesseiros, oportunistas, promovendo golpe de estado.

A sensação que se impõe, altamente irreal, é que os namorados não estariam juntos de verdade, mas partilham um estágio probatório, de teste, entretidos apenas enquanto não chega o amor eterno. Ou seja, aberto a ataques dos demais solteiros.

Ora bolas, namoro é compromisso como casamento. É um pacto de convivência e de lealdade tão importante quanto o registro no cartório. Não diminui a gravidade da infidelidade. Não apaga os sentimentos de exclusividade dos envolvidos. A dor diante de casos e mentiras é igualmente devastadora.

Não incomode quem se encontra acompanhado. Reconheça o valor do romance alheio. Nenhuma felicidade será legítima depois de estragar e cobiçar a vida do próximo.

Crônica publicada em 16/6/2018

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