segunda-feira, 25 de março de 2019

QUEM SÃO OS MEUS PAIS?

Os pais podem mudar de opinião. Aliás, eles mudam de opinião. Suas palavras não são eternas. Os filhos não aceitam as transformações dos pais porque percebem qualquer juízo de ambos como um mandamento inviolável.

Eles teriam que manter a mesma posição por toda a trajetória?

É impossível. Nem tudo que vem da boca deles é conselho, nem tudo é tábua de salvação.

Se um dia falaram que não gostam de tal coisa, parece que a ideia será para sempre. Não é, não há como ser.

Eles apresentam restrições, cometem preconceitos, mas melhoram. Abrem a cabeça, abrem o coração. São humanos, como os próprios filhos, em constante transformação. Erram, vacilam, enganam-se, são enganados, levam fora, tropeçam em vexame e se reerguem. Alguns são arrogantes, depois se mostram humildes e compreensivos. Alguns são carinhosos, depois se isolam na mais completa indiferença.

Não são fechados, embalados para presente.

Aqueles mesmos pais que não queriam que você tivesse animais na sua infância são capazes de adotar cachorros na velhice. E ainda chamam os cachorros de filhinhos (ou seja, ganhou irmãos). Os cachorros dormem na cama deles, algo inacreditável diante da antiga fobia.

Coerência é mudar, não ficar parado sem ser modificado pelo tempo.

Conhecemos os pais pelas funções. O Pai. A Mãe. Como entidades. Nunca chamamos pelos nomes, e sim pelas funções: meu pai, minha mãe. O que devemos perguntar, antes que seja tarde, quem são eles? Você pode passar a vida sem conhecer realmente os seus pais. Pois há pessoas dentro do Pai e da Mãe. Pessoas ansiosas, pessoas esperançosas, pessoas sofrendo com a realidade, pessoas com os seus sonhos não realizados e o igual medo de não ser amado.

Os pais aprendem a vida dos filhos de cor e salteado, mas os filhos não param para perguntar o passado deles. Como foi a infância e adolescência dos dois, de que são feitas as suas escolhas, por que eles pensam desse jeito?

Amar depende da permanente curiosidade. Nunca pensar que conhece realmente alguém, para assim nunca parar de se conhecer.

Qual será a sua surpresa ao descobrir que você é mais parecido com os seus pais do que imagina?

E, de repente, descobrindo que os pais mudam, pode estranhamente mudar de opinião sobre eles.

Crônica publicada em 05/7/2018

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