Quem só quer ficar mata a esperança.
O amor não existe sem esperança. Esperança é curiosidade, descobrir mais do outro a cada encontro, guardar informações inúteis apenas para aumentar a saudade: Qual o seu prato predileto? Você dorme de cabelos molhados? Você acredita em fantasmas? Qual a canção que lhe acalma?
As perguntas tolas são as mais encantadoras.
Ficar só por ficar é não querer saber coisa alguma, é naufragar no silêncio, é ser eternamente igual ao início, é não sair do lugar.
É não pode falar para os outros do que está acontecendo de diferente. É viver para esquecer em seguida.
É quando o sexo não se prolonga em mãos dadas, na cabeça no colo, na conchinha, nos pés se alisando.
Não há desejo de mais nada além do desejo.
É se encontrar para amar e logo se desencontrar de novo.
Ficar só por ficar é aula de anatomia, não é caligrafia da pele, andar com a boca pelas pintas e sinal de nascença. É figuração, não protagonismo. É distração, não permanência.
Relação depende da brecha do impossível, de não adivinhar o tamanho do sentimento, se durará uma semana ou para sempre.
Ficar só por ficar torna o olhar passageiro, provisório, opaco.
São importantes as juras mesmo que nunca sejam realizadas. Sonhar com uma viagem juntos, sonhar em morar na frente do mar, sonhar com o nome dos filhos hipotéticos.
As chances de romance crescem quando dividimos a esperança mais do que o corpo.
Não aceite ficar só por ficar. Qualquer número que vem estará depois do zero.
Crônica publicada em 24/5/2018
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