quinta-feira, 21 de março de 2019

BAND-AID NO CALCANHAR

Se você não repara nas pequenas feridas do outro, nunca chegará a perceber o sangramento invisível no pensamento.

Cuidar é não esquecer do pouco. Dentro do amor, fará diferença enxergar o mal estar dos pequenos desconfortos. Ali mora a gentileza. Ali mora o cupido.

O que adianta estar junto e não se importar com os machucados mínimos. A observação ajuda a cicatrizar.

É identificar o band-aid no calcanhar da mulher, pelo sapato novo, e dizer que o salto demora para ser dela.

É identificar a orelha machucada pela bijuteria, e dizer que ela só pode usar ouro ou prata.

É identificar a boca ressecada, e dizer que manteiga de cacau mais beijo de língua resolvem a aspereza.

É identificar a cutícula cortada excessivamente, e dizer que ela não deve voltar para aquela manicure.

É identificar as dores musculares e dizer que ela precisa fazer mais alongamento antes de treinar.

Não significarão nada as observações. Não mudarão a ordem do dia. Não trarão recompensa. Não ocasionarão declarações e juras. Serão meros comentários afetuosos, mas ela saberá que você sempre a olha e a guarda.

Se permanecer alheio à pele, alheio à aparência, quando ela sofrer de verdade, fora do radar das palavras, nunca descobrirá que algo mudou e que ela está estranha. Amar é constância.

Crônica publicada em 02/4/2018

Nenhum comentário: