Não se arrisque a uma última transa assim que foi decidida a separação. É um passo altamente temerário, o equivalente a recuar cinco casas quando chegava ao fim do tabuleiro.
Mesmo que o pretexto seja poético, como a atitude de deixar uma última lembrança feliz. Nunca será a última lembrança. Ninguém é generoso no momento do adeus. É um disfarce intelectual, um artifício racional sem nenhuma utilidade.
Como o sexo não será ruim, pois ambos estarão interessados em provar o seu valor, o afastamento será prejudicado. Complicará o julgamento emocional. Destruirá sessões de análise, queimará o dinheiro da terapia, jogará fora as longas discussões de madrugada e o pacto de não-agressão.
Dali por diante, nascerá a neurose: a impossibilidade de entender a realidade pela distorção dos fatos. O casal adoecerá junto, regredirá ao puro instinto, não tendo condições de se afastar definitivamente ou de se reaproximar. Ficarão novamente dependentes, insatisfeitos e inseguros na teia da carne.
A pele nunca é informada do desfecho, por isso que ela ainda tenta em vão negociar termos com o abraço, o beijo e o contato.
Não se engane. O derradeiro ato de amor sempre esconderá um gesto desesperado de reconciliação de uma das partes, ainda que não seja declarada. Trata-se do sexo quente e louco do acerto de contas, da surra, da vingança, da maldade, da resistência.
Não se salva uma relação a partir do sexo, somente atrapalha o seu desenlace. Ambos vão querer matar o outro de prazer: “quer mesmo ir embora depois de tudo isso?” Ou “olhe o que vai perder”.
É amaciar os chifres de um touro ferido. É brincar com o perigo da recaída.
Não ferre a mente do ex por um capricho, oferecendo falsas esperanças e reatos forçados. Se não vai jogar, largue o campinho, aposente as chuteiras, não confunda as palavras respeito e despeito.
Sexo de despedida é o mesmo que caprichar no último dia do aviso prévio. Não tem nexo. Trará apenas culpa e arrependimento.
Publicado em O Globo em 17/5/2018
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