No amor, cada vez menos merece atenção o homem-açougue. Aquele que se dedica ao sexo, e mais nada. Ele surgirá como o pretendente ideal, já que não fica em cima, não pressiona, não telefona, e bate em sua porta só quando começa a sentir saudade. Tem o dom da medida certa. Demonstra ser completamente resolvido e arejado. Quer ir com calma, sem planos. Despertará a sua libido e os seus sonhos mais selvagens. Será um grande parceiro para viagens e aventuras. Não definirá nunca o que ele está pensando e qual o seu próximo passo. O mistério aguçará a sua curiosidade.
Apesar da tentação, enfrente a coragem de descartá-lo. Mantenha distância do seu cutelo: trata-se de um conquistador serial, não contará com a mínima piedade para amputar os anéis e a esperança. É interessante porque está desinteressado em você. Não lhe procura com ansiedade, pois está ocupado em namorar outras pessoas. Seu tempo livre é o tempo que sobra.
Por outro lado, cada vez mais deve ganhar destaque o homem-padaria. O homem dos doces, do café da manhã, do pãozinho quente, disposto a gentilezas e agrados. A princípio, vai parecer grudento, piegas, sensível demais. Aguente as quatro primeiras semanas de dependência e declarações, não grite quando receber mensagens de bom-dia às 6h da manhã, não bloqueie quando ligar seis vezes. Faça yoga, feng-shui, respiração com abdômen. Eu sei que não é o tipo mais excitante, lembrará mais os seus melhores amigos do ensino fundamental do que os candidatos sérios de suas fantasias. Mas o enjoo passa com a rotina e ele deixará de provocar antipatia. Começará até a rir de seus dramas, de seus atropelos, do excesso apaixonado e da sua pressa por compromisso.
Reconhecerá, pouco a pouco, o prazer da lealdade e a constância da fidelidade. Daí mudará o seu condicionamento sexual pelos canalhas e cafajestes, a sua predileção pelo perigo, o seu entendimento de amor difícil, a sua atração pela recusa. Amará quem lhe ama, algo estranho, tão afeiçoada antes a amar quem lhe negava. Terá recompensas por aguentar a barra inicial. Ele providenciará sopa quando estiver doente e dançará coladinho nas noites de saúde.
Os melhores homens no início são os piores no final. Os piores homens no início são os melhores no final.
Crônica publicada em 07/6/2018
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